Bogart e o Xadrez em Casablanca


Um dos filmes mais emblemáticos da história do cinema, Casablanca, encontra-se intimamente relacionado com o xadrez.
Em uma das cenas mais importantes do filme, o ator principal - Humphrey Bogart - aparece diante de um tabuleiro de xadrez, ou bem jogando, ou bem analisando uma determinada posição.
 
Essa posição corresponde à Defesa Francesa, como se de uma premonição se tratasse. Ainda que para Bogart e Bergman "sempre haverá Paris", no final ele fica sem ela, ainda que - isso sim, bem acompanhado por sua francesa.
A opinião geral é que o xadrez era só um passatempo durante as rodagens de Casablanca, filme que Michael Curtiz dirigiu em 1943, já que - fora da câmara - Claude Rains, Humphrey Bogart e Paul Henreid o praticavam assiduamente.
Entretanto, o xadrez aparece em uma das cenas principais, no começo da fita, quando Ugarte (Peter Lorre) tenta falar no Café Américain com Rick Blaine (Bogart). A cena se incluiu por sugestão do mesmo Bogart.
Uma imagem inspirada nesta cena foi utilizada como base para o cartaz publicitário do filme destinado à França, ainda que substituindo Ugarte pelo senhor Ferrari (Sydney Greenstreet), o volumoso chefe do mercado negro, cujo cigarro rodeia de fumaça o rosto circunspecto de Ilsa Lund (Ingrid Bergman).
Inclusive "em um rascunho do roteiro de Casablanca, Rick e Renault jogam xadrez enquanto decola o avião de Victor e Ilsa." [Frank Miller: "Casablanca as time goes by... 50th Anniversary commemorative", Turner Publishing Inc., Atlanta 1992, página 137.]
Tudo isso parece indicar que o xadrez cumpre sutilmente certa função semântica neste filme já imortal, posto que em uma obra de arte todo detalhe é potencialmente significativo. Nos demoremos na cena inicial no Café, examinemos a situação do filme e a comparemos com a situação das peças no tabuleiro de xadrez.
Rick está só em frente ao tabuleiro. Não joga, mas parece estar analisando uma posição presumivelmente delicada, difícil ou chave (ninguém dedicaria muito tempo em uma posição óbvia, que requer lances fáceis). Já é algo chamativo que Rick se encontre sentado do lado das pretas, pois o habitual é que se analise do lado branco, e que todas as publicações enxadrísticas reflitam esta convenção.
Dentro do tabuleiro, e segundo se pode reconstituir a partir dos fotogramas do filme (apesar da taça cobrir o canto do tabuleiro), a posição é a seguinte:
 


Nesta posição surge um esquema que - desde o século passado - os enxadristas denominam "Defesa Francesa". É fundamentalmente o lado preto o responsável por sua aparição no tabuleiro, as brancas não podem forçá-la.
Lamentavelmente, uma ligeira imprecisão (não essencial para a tese principal) impede reconstruir a ordem exata dos lances (concretamente, não é fácil determinar como desapareceram os dois bispos de rei). De qualquer modo, na posição que reflete o diagrama, as pretas estão submetidas a uma forte pressão e falta de espaço (note-se os peões em 'e5' e 'h4' e o cavalo em 'b5', que invade o território e restringe a mobilidade), ainda que pareça que com jogo preciso as pretas devam ao menos sobreviver.
O fato de que seja uma posição derivada da Defesa Francesa (e não de qualquer outra abertura) a que aparece nesta cena de Casablanca, onde se apresenta a Rick, um personagem ambíguo ou aparentemente neutro - "não arrisco meu pescoço por ninguém" ["I stick my neck out for nobody"] - é onde começa a se delinear sua complexa personalidade. O fato de que Rick apareça analisando a posição (não jogando), e que esteja sentado do lado defensor (as pretas), são elementos chaves - e não meramente anedóticos - para a semântica deste filme, elementos que permitem decifrar as intenções autênticas e inconfessas de Rick.

Uma aventura no reino do xadrez
A história começa na casa do protagonista do filme, Cauê, um garoto de 9 anos que espera o pai, Roberto, para levá-lo à um passeio na Biblioteca Pública. Dentro da biblioteca, descobrem a sala de xadrez, de onde partem para suas aventuras. Primeiro transformam-se em desenho animado, e saem voando num tapete mágico no meio do deserto da Índia, há mais de 1500 anos. Lá encontram Sessa, o brâmane inventor do jogo de xadrez, que está levando um presente para o rei. Retornam a sala de xadrez e acabam caindo numa partida "ao vivo", uma batalha entre dois reinos. A partida ali representada é a famosa "Jóia de Primeira Água", jogada em Paris em 1858, pelo americano Paul Morphy contra o Duque de Brunswick e o Conde Isouard. De volta à biblioteca, começam a jogar uma partida, onde um dos peões tem vida, e conversa com o Cauê durante o jogo, até chegar ao xeque-mate, que o leva de volta ao mundo encantado. É então chegada a hora de fechar a biblioteca ...

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