Regras Básicas do Compositor

Regras Básicas do Compositorpor Leo Mano

Apesar de que, via de regra, os apreciadores de problemas artísticos sejam também jogadores de xadrez, os melhores jogadores raramente são também os melhores compositores. Isto acontece porque o treinamento exigido para um ótimo jogador é bem diferente do treinamento praticado por um ótimo compositor. No xadrez artístico, as composições utilizam (ao extremo) a dinâmica dos movimentos das peças colocando-as em posições ideais criando situações que dificilmente seriam encontradas em partidas de torneios de alto nível. Um mestre do solucionismo, por exemplo, dedica-se a outro treinamento totalmente próprio. Por isso é comum bons compositores serem jogadores medianos e, por vezes, também um solucionista mediano. O xadrez artístico é um mundo independente do xadrez de competição: Tem regras próprias, competições próprias, preparação própria, ídolos próprios e também sua própria história.
Compositores e solucionistas, ao observarem um diagrama de mate em 2, conseguem dizer com boa margem de segurança, se a posição surgiu de uma partida real ou de uma idéia concebida por um autor. De fato, apesar de invisíveis aos olhos leigos, uma composição artística obedece uma série de regras bem definidas e que servem justamente para dar valor à obra (como as marcas d'água que autenticam uma cédula). O fato de você levar 30 minutos para resolver um problema e 10 minutos para resolver outro, não significa que o primeiro tenha mais valor que o segundo. Lembre-se de que outros solucionistas podem resolver os mesmos problemas em diferentes tempos e o que foi mais difícil para você pode não ter sido para os outros.
Aquelas regras permitem que um juiz avalie corretamente uma composição com o mínimo de interferência de gostos pessoais permitindo também a realização de torneios e premiações com alto grau de imparcialidade e consistência. Ao longo dos anos estas regras de avaliação foram incrementadas e aperfeiçoadas mas, de qualquer forma, alguns conceitos básicos persistem e devem ser do conhecimento de qualquer um que deseja se tornar um compositor. Daqui por diante, observando as composições premiadas com estas regras em mente, você será capaz de enxerga-las com outros olhos e avaliar qualquer obra sem se basear apenas na dificuldade que teve em resolve-la mas, principalmente, em função de sua qualidade técnica e beleza.
I - Correção da composição.
1-Furo. A composição deve possuir um único lance chave capaz de satisfazer o enunciado. De outro modo, exceto em situações incomuns quando o autor indica claramente esta intenção, o problema será considerado incorreto, ou seja, contendo furo.
2-Dual. Evite a situação onde, apesar de satisfeito o artigo 1, após uma defesa das negras, o mate possa ser aplicado por dois ou mais lances brancos alternativos.
3-Legalidade. A posição das peças deve ser legal, isto é, possível de ser alcançada através de uma sequência de lances a partir da posição inicial do jogo de xadrez.
II - Valor técnico.
4-Economia. a) Evite utilizar duas peças para exercer uma função que pode ser cumprida por uma única peça; b) Se uma determinada função pode ser cumprida por uma peça ou outra, prefira a de menor força; c) Jamais utilize peças sem função na composição.
5-Promoção. Evite compor trabalhos com três torres, duas damas, etc, mesmo que a posição seja legal. A partir do lance chave (inclusive) as promoções podem ser usadas normalmente.
6-Chave. a) Evite a chave que diminui a força do oponente (capturas, pregaduras, etc). b) Evite as chaves que restringem os movimentos do oponente (eliminação de casas de fuga do rei negro, xeque ao rei, etc).
7-Dificuldade. Quanto mais difícil a chave, mais valor tem o problema. Tecnicamente dizemos que a dificuldade é proporcional à quantidade de ensaios apresentados. Os ensaios são tentativas de solução (lances que parecem ser a chave mas não são) que possuem uma única possível defesa negra.
8-Estética. Posições arejadas onde as peças se distribuem ao longo de todo o tabuleiro são preferíveis ao invés de posições que apresentam uma concentração de peças em determinado setor.
9-Equilíbrio. Quanto menor a desigualdade de força entre os bandos, melhor.
III - Valor artístico.
10-Tema. As composições devem apresentar uma estratégia ou tática bem definida para alcançar o mate. Esta propriedade surge quando as negras possuem diferentes formas de se defender e, para cada defesa, existe um diferente arremate branco que explora uma mesma fraqueza ou erro das negras. Diferentes defesas que geram diferentes fraquezas ou erros resultam numa aparente casualidade nos mates e, consequentemente, uma diminuição no seu valor artístico.
11-Originalidade. a) Em torneios de tema livre, o júri deve decidir o grau de originalidade de cada obra. O tema proposto pelo autor não precisa ser absolutamente novo: Pode ser também uma combinação de temas já conhecidos ou até mesmo temas antigos com alguma propriedade adicionada a eles (tais como, economia, dificuldade, etc). b) Em torneios com tema pré-definido, a originalidade fica por conta da capacidade do autor em apresentar sua estratégia da forma mais clara e abrangente possível sem fugir do tema proposto.
IV - Considerações finais.
1-Hierarquia. Nenhum dos artigos descritos nos capítulos II e III são, por si só, decisivos na avaliação de uma composição perante um júri. Contudo, devemos admitir que determinados aspectos possuem maior peso que outros. Esta hierarquia não é rígida pois está sujeita a avaliações um tanto quanto subjetivas e que variam de obra para obra e de júri para júri. Por exemplo, uma economia fabulosa pode atribuir mais valor à obra do que sua originalidade mesmo sendo este último um aspecto de muito peso. De qualquer forma, arriscaremos uma classificação hierárquica por grupo:
a) Peso baixo. Normalmente usados em desempates: Artigos 8 e 9.
b) Peso médio. A não observação desses itens não implica necessariamente em um sério comprometimento da obra pois podem ser compensados, ainda que dificilmente, por outros aspectos artísticos: Artigos 5, 6 e 7.
c) Peso alto. A não observação destes itens, invariavelmente, desvaloriza a obra perante o júri de uma competição: Artigos 4 e 10.
d) Peso muito alto. Fundamentais para a premiação ou eliminação: Artigos 1, 2, 3 e 11.
2-Subjetividade. A subjetividade na avaliação artística de uma obra se refere menos ao humor do júri e mais à sua experiência. A prática dos juizes ao longo dos anos os fazem conhecedores de uma infinidade de composições nos mais variados temas e modalidades. Esta vivência cria parâmetros pessoais de comparação que lhes permitem avaliar, com razoável acuidade, o grau de dificuldade encontrado pelo autor na realização da obra, o grau de originalidade alcançado e sua abrangência. Isto significa que uma mesma composição pode receber premiações diferentes de uma competição para outra mas, na prática, constatamos uma clara regularidade na premiação de uma mesma obra quando submetida a duas ou mais competições com diferentes júris de larga experiência. Em outras palavras, o fator "humor" praticamente inexiste nas competições de alto nível.
3-Para saber mais. A seção Dicionário possui exemplos práticos das regras descritas aqui além de dezenas de outros termos técnicos com os quais você deverá se familiarizar.

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