Boris Spassky



Quando pensamos em Spassky, inevitavelmente o associamos às suas derrotas para Fischer. No entanto, tendemos a esquecer o enxadrista singular, o direcionamento luminoso em posições complexas e o fato de que não se podia determinar exatamente um único estilo de seu jogo. Acrescente-se a isto uma calma impertubável e irritante para os seus adversários. Spassky, de acordo com Kasparov, poderia ter o seu xadrez classificado como universal, entendendo-se isto como a capacidade de jogar bem os variados tipos de posições. O seu resultado contra Kasparov é sugestivo. Ver partidas:
Kasparov conseguiu ganhar apenas em 1989 em Barcelona e 1990 em Linares quando Spassky já estava francamente em declínio. Em 2006, ele pode ainda bater Karpov . Kasparov faz o seguinte comentário sobre o seu primeiro encontro com Spassky: “O meu primeiro encontro com Spassky foi em 1981 na cidade holandesa de Tilburg. Era o meu primeiro supertorneio: uma prova de fogo! Todos os mestres destacados estavam ali, a exceção de Karpov e Korchnoi e também Tal e Polugayévski que ajudavam Karpov no match de Merano. Eu julgava que Boris Vasielevitch estava tremendamente assustado. No entanto tudo terminou mal. A minha derrota contra Spassky foi penosa(!)”.
A partida seguiu na Defesa Índia do Rey, variante Averbach, e após 1-d4 –Cf6; 2-c4-c5; 3-d5-g6; 4-Cc3-d6; 5-e4-Bg7; 6-Be2-0-0; 7 Bg5 chegou-se a posição do diagrama abaixo:

Nesta posição seguem-se os comentários de Kasparov: “Spassky pensou e logo decidiu sacrificar um peão, no espírito do gambito Benko, esperando apoderar-se da iniciativa e obrigar as brancas a defender-se com precisão e obrigar-me a um jogo que poderia resultar-me desagradável”.
7-…b5; 8-cxb5- a6; 9- a4!- Da5?! Teria sido melhor jogar 9-…h6! 10-Bd2-CbD7?; As negras simplesmente quedam-se numa versão inferior do gambito Benko. 11-Ta3! Agora a atividade das negras se estanca. 11-…Bb7;12-Cf3-axb5; 13-BxB5-Dc7; 14-0-0. A posição das brancas está tecnicamente ganha, pois tem um peão de vantagem, sem nenhum contra-jogo de seu oponente.Assim a aventura de Spassiky há fracassado. No entanto, ele seguiu jogando como se nada houvera passado, com uma aparência imperturbável o que me fazia roer por dentro!
14-…Cg4; 15-Bg5
"El Ajedrez, con toda su profundidad filosófica, es ante todo un juego en el que se ponen de manifiesto la imaginación, el carácter y la voluntad". Boris Spassky

15-…Cgf6; uma decisão pragmática por parte de meu experiente oponente!
As negras devem controlar o seu terreno , ser pacientes e esperar.
16-Cd2-e6;17-Cc4-exd5;18-exd5-Tad8; 19-a5; um plano evidente para materializar a posição, embora hoje em dia não consigo explicar como pude perder esta posição! 19-…h6; 20-Bh4; é possível que Bf4!? fosse melhor.20-…Ce5; 21-a6-Ba8; 22-Te1-g5; 23-Bg3-Cfd7! Abrindo passo para o peão f. 24-a7!-f5; 25-Bxe5-Cxe5; 26-Cxe5 –dxe5! A única forma. Depois de 26-…Bxe5; 27-Dh5-Rg7; 28-Ta6-Bxc3; 29-Bxc3-Bxd5; 30-c4-Bf7; 31-Df3-Ta8; 32-Tea1 . As brancas teriam ganho sem o menor problema. Agora o peão de a7 deveria decidir a luta, porém ao menos está bloqueado e as negras tem a esperança de explorar a força do seu bispo de casas negras. 27-Ta6-e4; 28-Bc4(o computador sugere 28-d6!?) – Df7; 29-Cb5-Rh7; 30-Te6. A situação está cristalizada e eu comecei a jogar com muita determinação: o cavalo protege o peão de a7 e a torre penetrou no campo contrário. Chegou, portanto, a fase concludente e Spassky se encontrava em sérios apuros de tempo… 30-…Db7;

31-Dh5?! A primeira jogada que merece uma severa crítica. Eu deveria simplesmente atacar o peão com 31-f3! E a partida teria sido concluída rapidamente. 31-…Tf6;32-Txf6-Bxf6;33-g4?f4! Uma réplica instantânea! As negras conseguem pela primeira vez possibilidades de contra-jogo. 34- h4!?Rg7? Spassky faz o lance com o ponteiro a ponto de cair!35-Cc3? Este lance deixa escapar uma nova vitória com 35-d6!- e3; 36-f3!

35-…e3;36-Bd3-exf2+;37-Rxf2-Dxb2+;38-Te2?Um grave erro, agora com o apuro de meu tempo.38-…Dxc3; 39-Dg6+ -Df8; 40-Dxh6+ – Bg7; 41-Dxg5!-Df6?; 41… Dd4+! Spassky ganharia de imediato! Neste ponto a partida foi adiada e reiniciou no mesmo dia com um drástico câmbio de cenário: em lugar de ganhar eu estava lutando agora por um empate e isto exerceu em mim um efeito desmoralizador.
42-Dxf6+ Bxf6; 43-Bc4-Bxh4+; 44-Rf3-Td7; 45-Ta2? Outro erro e desta vez irreparável. 45-…Bg5; agora as brancas não podem jogar g4-g5 e a sua posição está perdida. 46-Re4-Tf7; 47-Ta5-Rg7! 48-Txc5 –Rf6?! 49-Tc8—Txa7; 50-Tf8+Rg7; 51-Tc8-Rf6? Novo apuro de tempo. 52-Tf8 + Rg7; 53-Tc8-Bb7+! 54-Tc7+ Rf6; 55-Rd4-Bh4! 56-d6-Bf2+ 57-Rc3-Be4! 58-Te7-Txe7; 59-g5+Rg6; 60-dxe7-Bc6; 61-Rb4-Bb6; 62-Bb3-Bd7; Evitando a última armadilha: 62-…f3? 63-Bd5-Be8; 64-Bc4-f3; 65-Bd3+Rxg5; 66-Bb5-f2. As brancas se rendem.
A forma empreendedora e tranqüila que Spassky lutou numa posição desesperada me produziu uma profunda impressão. Apesar de alguns erros no apuro do tempo, explorou de forma esplêndida as possibilidades táticas da posição, captando sutilmente os matizes psicológicos da luta. Me superou por completo no plano psicológico! Numa posição tão desfavorável outro jogador simplesmente haveria se desmoralizado, porém Spassky lutou duramente dizendo a si mesmo:”és jovem e temperamental. Isso tem que aparecer em algum momento”! E foi justamente isto que ocorreu.
Spassky, nasceu em Leningrado, em 30 de janeiro de 1937 numa época sombria, pré-segunda guerra mundial. Fora conhecido como garoto prodígio no início de sua adolescência e a Federação Soviética de Xadrez, numa notável exceção, selecionou-o para um torneio internacional no exterior antes de ter jogado a final do Campeonato Nacional. A sua estréia internacional ocorreu em grande estilo, derrotando Smyslov em histórica partida, em Bucareste, 1953, no qual obteve o título de mestre internacional.

Desde a infância teve uma inclinação pelo jogo agudo e de ataque e possuía um magnífico instinto pelo desenvolvimento da iniciativa. Estes hábitos, de acordo com Kasparov, foram cultivados pelo seu primeiro treinador, Zak e desenvolvidos e consolidados depois pelo lendário Tolusch. A debilidade pelos ataques brilhantes podem ser detectados em toda a carreira de Spassky. Ele gostava de um centro forte e móvel e um desenvolvimento livre de peças. Por outro lado, aprendeu num nível genético a manobrar de forma sutil e a jogar bem em posições inferiores. Por último alcançou maestria na fase final do jogo. Com o tempo jogava todas as fases do jogo igualmente e segundo Kasparov com exagerada indiferença: se é um ataque é um ataque, se é um final é um final! Porém, na menor oportunidade ele era capaz de mostrar a sua inata habilidade para abrir caminho em posições complexas, ricas em táticas e carentes de diretrizes. De forma que as raízes enxadrísticas de Spassky estão próximas a Tschigorin, Alekhine e Tal do que a Botivinik e Petrossian. É possível que isto explique porque nos seus melhores anos nem Tal e nem Korchnoi conseguiam jogar contra ele. Seguramente porque os seus jogos, sobretudo o de Tal podia ser lido por Spassky como um livro aberto. Kasparov.
Estou seguro que o xadrez tem um esplêndido futuro porque é uma luta eterna. Há chegado a era da informática que a tudo influi: análises, informações, preparação. Agora se requer um talento distinto: a capacidade para sintetizar idéias. No momento o homem segue a frente das máquinas”. Spassky.
Spassky era o único jogador de primeira linha da sua geração a jogar gambitos sem medo (uma arma empregada por Bronstein com sucesso). Kasparov acredita que Spassky era ainda mais eficiente nos gambitos do que Bronstein. Esta inclinação pelos gambitos acompanhou toda a sua carreira e seus resultados são verdadeiramente assombrosos. Durante 30 anos não perdeu uma única partida no Gambito do Rei jogando contra jogadores como Fischer, Bronstein, Averbach e Seirawan. Ele jogava os gambitos, no entanto, diferente de todos os românticos do passado. O seu objetivo era conseguir um centro móvel com boa mobilidade de peças. Muitas das suas vitórias posicionais nos gambitos ocorreram sem nenhum ataque ao rei e sim devido às debilidades causadas na posição inimiga. Nunca jogou 1-Cf3 na abertura. Ele foi o primeiro dos grandes jogadores que empregou 1-d4 e 1-e4 com igual êxito. Pode-se dizer que muitas das suas posições de aberturas davam ensejo a que os seus adversários plantassem difíceis problemas como ocorreu na famosa partida contra Fischer , no Gambito do Rei(!), em Mar Del Plata, 1960. No 27˚ Campeonato da URSS, em Lenigrado, 1960, ele afrontou, como fizera com Fischer em Mar Del Plata, ninguém menos do que David Bronstein: 1-e4 –e5; 2-f4!! Ao comentar depois esta partida no seu livro clássico: 200 Partidas Abertas, Bronstein se lamentava: “Que diablos me habria empujado a mi a responder 1-…e5? Havia esquecido que a Spassky, como Spielmann, no passado lhe gostava muito jogar o Gambito do Rey”. Ainda em suas reflexões, Bronstein anotara preocupado, depois de 2-f4: “Y si a mi oponente se le ocurriese crear hoy uma obra maestra”? Foi isto precisamente o que se sucedeu! Esta partida foi considerada a mais brilhante do torneio. Não seria exagero dizer que Spassky jogava o Gambito do Rey melhor do que toda a soma de jogadores do passado, incluindo Anderseen, Kisserkitz, Blackburne e o próprio Steinitz.
O gosto de Spassky por posições agudas e de ataque, veio sem dúvida do seu primeiro treinador, entre 1952 e 1960, Alexander Kazimirovitch Tolusch, nas palavras de Kasparov, um homem engenhoso e de caráter muito alegre. “Depois que ganhava uma partida informava aos seus amigos: “Drácula foi caçado”! Quando seu oponente opunha desesperada resistência, falava: “a carne de canhão resiste”! Quando este por fim se rendia, dizia: ”Mordi o polvo”! Ao analizar uma partida blitz se autoelogiava com o seu conhecido grito de guerra: ”Adelante Kazimirich”! Esta expressão se converteu em lema para toda uma geração de jogadores. “Kazimirich, disse Spassky, me revelou o mundo mágico das combinações. Tolusch entendia perfeitamente todos as sutilezas psicológicas da luta no xadrez. E não só no xadrez, como também no pôquer. No entanto, as maneiras de Tolusch não agradavam a todos igualmente. A Botivinik, por exemplo, “no le gustaba”. O motivo ocorrera durante a partida Tolusch versus Botivinik , no 13˚ Campeonato Soviético, em 1944. Tolusch havia dado mate na casa f7 com estas palavras: “Es mate, Mikhail Moisevitch”! Desde então a palavra Tolusch soava aos ouvidos de Botivinik como um juramento. Recordo que quando esmaguei Karpov , na fantástica 16º partida de nosso match de 1986, Botivinik me mirou seriamente e pronunciou o seu veredicto: “Jugaste esta partida al estilo de Tolush”! Naqueles anos eu não estava ainda familiarizado com todas as sutilezas, porém compreendi pela sua entonação que aquelas palavras não tinham nada de positivo. Na realidade a partida havia sido excelente, mas Botivinik ao ver alguns sacrifícios “selvagens”, do tipo especulativo, imediatamente se recordava de “Kazimirich”. Mais tarde na introdução ao meu livro publicado na Rússia, sobre os matchs , tramou uma explicação original para os meus reveses nas partidas 17˚ e 19˚, explicando em parte por causa da minha vitória na 16˚: Kasparov jogou sem alento, ao estilo Tolush, embora tenha logrado uma vistosa vitória, achou que poderia prosseguir com este estilo de jogo”! Com estas palavras Botivinik expressava sua grande reprovação ao “estilo bufão”. O mestre não admitia que pudesse ocorrer nada de acidental na partida e havia de construir o edifício da partida de xadrez com um trabalho metódico, literalmente ladrilho a ladrilho. Spassky pelo contrário se associava ao estilo Tolush! Isto se tornou evidente no torneio de Tilburg, em 1981 numa partida minha contra Larsen , numa posição muito complicada, de roques opostos, no qual preferi seguir por uma continuação posicional e consegui um final favorável, embora tenha deixado escapar a vitória. Na análise, Spassky sugeriu com insistência o avanço do peão “g” na jogada 13, repetindo: “Aqui Tolush teria jogado g4”! Ao ouvir isto Larsen olhou Spassky com cumplicidade e de forma ameaçadora gritou: “Kazimirich”.Todos estalamos em gargalhadas.
Para ilustrar o “estilo Tolush” de Spassky, eu quero lembrar o Campeonato da URSS de 1973 e o match de candidatos contra Robert Byrne, em 1974. Quanto ao primeiro Korchnoi me havia dito que este torneio fora o “canto do cisne” de Spassky, provavelmente o melhor torneio da sua carreira. Este torneio tinha atraído os jogadores mais fortes do momento. Estavam os duros combatentes, Keres, Smyslov, Geller, Taimanov, Petrossian, Tal e Polugayévski, além das novas estrelas Karpov, Beliavsky e demais. Korchnoi e Karpov haviam ganho brilhantemente o Torneio Interzonal de Lenigrado e um ano depois haveriam de defrontar no match de candidatos, porém Spassky jogou melhor do que todos eles, de forma simplesmente insuperável! Parecia que estava restabelecido da sua derrota ante Fischer. O seu jogo fácil e elegante queda refletido em duas partidas com Tukmakov e Rashkovsky, que optaram mal pela Variante Najdorf, da Defesa Siciliana. Spassky x Tukmakov ; Spassky x Rashkovsky “. Kasparov.
A catástrofe de Riga – Spassky teve a sua chance de ser campeão mundial em 1958, no 25˚ Campeonato da URSS que também tinha um caráter zonal. Segundo Kasparov, Spassky neste momento não queria apenas ser campeão mundial, mas “demonstrar quem era quem”. Seis rodadas antes do final marchava com excelente pontuação: 9 pontos de doze; um ponto a frente de Petrossian e dois pontos a frente de Tal. Havia vencido de forma fulminante, Bronstein , Furman e Krogius e a sua partida contra Polugayévski seria considerada a mais brilhante do torneio. O lance intuitivo 17- Bxe6! E o inesperado salto do cavalo em 20-Ca4!? Garantiram a premiação de melhor partida. Ao finalizar esta partida, de acordo com as palavras de Kasparov, parecia que Spassky tinha assegurado não só a medalha de ouro, mas também uma das vagas classificatórias do Interzonal. Riga deveria ser o ponto de partida de uma carreira dirigida até o título mundial. No entanto, como se diz que no momento de glória, o infortúnio faz a sua aparição: Spassky nas cinco partidas seguintes empatou três e perdeu as outras duas. Na última ronda a situação era a seguinte: Tal e Petrossian lideravam a classificação com Bronstein a meio ponto e Spassky e Averbach a um ponto. 5 candidadtos para 4 vagas! 3 deles tinham empatado e Spassky joga a última ronda com a jovem estrela em ascensão:Mikhail Tal! Para Kasparov, o êxito de Tal irritava Spassky e por conseqüência, ele não avaliou adequadamente a situação. Com um empate, Spassky teria um match de desempate com Averbach, no qual provavelmente sairia vencedor. Esta partida segue uma tradição imemorial desde que o xadrez foi inventado e dentre as numerosas partidas jogadas em todos tempos, têm aquelas com tal cunho trágico que a própria Caissa comparece para assistir. Todos os grandes jogadores do passado, alguma vez jogou parte da sua existência (e do seu futuro!), numa única partida dramática! Steinitz, Pillsbury, Capablanca, Scheletcher!
Boris Spassky x Mikhail Tal – Riga 1958. Empate claro no lance 25, recusado por Spassky. Para Kasparov, a ira passou a aconselhar Spassky. “Ele jogava ressentido com o mundo. Era impossível suportar que Tal fosse homenegeado na sua cidade natal, Riga, local do torneio”.Do ponto de vista estrito da posição, Spassky não tinha nenhum motivo para ter recusado o empate. Segue a partida. Uma interrogação de Tal no lance 26-…Rf8? Seguido de uma exclamação imediata de Spassky com 27-Tc2! Um lance duvidoso com o 31-…Ta6?! Seguido de pronta exclamação: 32-a5! E a resposta de Tal: 32-…b5! No lance 45 a partida é adiada com iniciativa de Spassky.
45…De6. Adiamento.
“Os segundos dos respectivos jogadores analisaram a partida durante toda a noite e “esta noite antes da batalha” tem sido descrita por muitos autores, em particular por Victor Vasiliev, no seu relato: O Enigma Tal e por Averbach no seu artigo: A Hora do triunfo de Mikhail Tal”. Kasparov. Segundo os relatos, as análises do grupo de Spassky não conseguira achar um caminho até a vitória: o rei de Tal, como uma enguia, sempre conseguia se infiltrar entre os próprios peões. Às cinco horas da manhã, Spassky, finalmente se decidiu: “amanhã lhe darei mate! Agora é o momento de ir dormir”. De acordo com Kasparov, na hora de se dirigir para o local do jogo, Spassky, exausto, encontrou com Petrossian e lhe falou com um sorriso: “Hoy serás campeón”! 46- Df4+! A jogada secreta. “Es la más fuerte”. Kasparov. Chega-se ao lance 52, jogando-se de acordo com as analises dos seus segundos tabuleiros. No lance 57-Tc8?! Com 57-Db8! Brancas ganhariam(EschBach).57-…Td6? Ao invés de 57…Tc6! A jogada perdedora, más…

Página de análise após a interrogação de Mikhail Tal, 57-…Td6? Ao invés de 57…Tc6! Observe a posição após a jogada 58-Rf8+ e veja que Spassky poderia ter ganho com 59-g4!
A partida prossegue e chega-se a uma posição aonde a deusa Caissa, observa ainda indecisa.

Posição depois de 64-Tc8. Tal concede um sinal de interrogação para este lance, considerando que era essencial 64-Rg3. Kasparov acrescenta que também era possível 64-Df8 – Rf6 com empate.Spassky porém seguia a ganhar, nas palavras de Kasparov, por pura inércia, quando de repente percebe a desagradável réplica de seu oponente e, então, de acordo com uma testemunha presencial, com a “voz estranha e alterada”, propôs tablas. 64…Da6 acompanhada das palavras de Tal: “joguemos um pouco mais”! 65-Rg3? Caissa finalmente se decide. Tablas era conseguido por 65-Rd8! Ver Partida Completa .
Tal finalizou o torneio em primeiro lugar com meio ponto a frente de Petrossian e enquanto era sacado literalmente do torneio por multidão de admiradores que o carregaram pelos ombros, Spassky enxugava furtivamente as lágrimas e se retirava para os bastidores.O desfecho desta tragédia teve um capítulo extra três anos depois, no 28˚ Campeonato da URSS, onde Spassky sofreu uma derrota similar. Neste ponto o xadrez reflete uma profunda simetria com a vida. Para Kasparov, estas duas tragédias foram fundamentais para Spassky:”Como é bem sabido, os componentes do êxito no xadrez, não são só força e compreensão do jogo e sim também estabilidade psicológica e capacidade para manter-se inteiro nos momentos críticos.Mais tarde nos seus melhores anos,Spassky pode extrair lições muito positivas destas catástrofes e jogar muito bem as partidas decisivas.No entanto, naqueles anos o seu sistema nervoso não estava preparado para provas tão severas”.
Em 1968 ganhou o Oscar de melhor enxadrista da Associação Internacional de Imprensa Enxadrística. Conseguiu o primeiro lugar da lista das dez melhores partidas, publicadas pelo Informador, em três números sucessivos! A derrota infringida a Penrose , em Palma de Mallorca, 1969 é um destes três prêmios de beleza.
Em 1969 se torna, finalmente, campeão mundial ao derrotar Petrossian pelo escore de 12,5 – 10,5. Neste match Spassky mostrou toda a sua versatilidade ao adotar o estilo Petrossian contra o próprio Petrossian! Em 1970 vence Fischer de forma fulminante, na Olimpíada de Siegen, em plena guerra fria. Depois desta vitória Spassky , na observação de Kasparov, “dormiu em glórias”. Havia ganho o Oscar pela terceira vez. Em 1972 Spassky chegou para o match contra Fischer sem estar na sua melhor forma: jogara poucos torneios e, mais grave, brigara com Bondarevsky.
Fui o mais forte jogador entre 1964 e 1970. Em 1971, Fischer era mais forte”. Spassky.
Em San Juan, em 1974, jogando contra Robert Byrne , realizou à moda de Lasker, um sacrifício posicional de dama…por duas peças menores!
Na primavera de 1974, enfrentou Karpov, no match de candidatos e através deste match alguns experts especularam como teria sido Fischer jogando contra Karpov. Spassky ganhou a primeira partida. Spassky x Karpov e por esta partida o match parcecia confirmar os prognósticos dos críticos, mas no entanto, terminou desfavorável com um escore de 1-4. Em várias partidas Spassky obteve superioridade, mas então já não tinha a precisão que sobrava em Fischer. Em 1983, em Niksic, Kasparov tinha adiado a partida contra Petrossian e ao chegar ao restaurante para almoçar, encontrou Spassky que lhe perguntou sobre a sua partida: “parece que eu deixei escapar a minha vantagem”. E você, o que opinas? Spassky respondeu: Não, não é tão simples. Os bispos são de cores opostas e isto é favorável às brancas porque podem criar um ataque. Tens que mirá-lo. Petrossian não veio almoçar! Isto significa que não gosta da sua posição”! Esta observação permitiu Kasparov olhar a partida de forma diferente. No reinício, Petrossian foi batido em nove jogadas. Spassky conhecia bem os hábitos do seu histórico oponente.
“Spassky perdeu o encontro para Fischer por pura estupidez. Sobreestimou a si mesmo”. Botivinik.
Convidado de honra no MTel Masters, 2008, em Sofia, na Bulgária.
Para escrever este artigo eu usei abusivamente do livro de Kasparov, Mis Geniales Predecessores, Vol III. Com Spassky, eu corrijo um erro de juventude: em 1972, durante o “match do século”, eu tive Fischer como o herói e Spassky como o odiado vilão comunista; uma apreciação em preto e branco, dicotômica e por definição incapaz de captar as nuances existentes.
Spassky é uma lenda que segue vivo. Ele é a conexão histórica com aqueles enxadristas magistrais que desapareceram e que eles próprios são a magia do xadrez. Em Tilburg, 1981, Kasparov informou a Spassky, antes da partida no qual saiu derrotado, que iria lhe ganhar de forma arrasadora. A resposta: “Te ruego que procedas”! Com Spassky uma era se fecha. Como no ato quarto, cena primeira, da peça “A Tempestade”, de Shakespeare, na fala de Próspero, poderíamos dizer sobre estes fabulosos enxadristas: ”Tranquiliza-te, senhor. Nossos divertimentos já acabaram. Esses nossos atores, como já prevenira, eram todos espíritos e desapareceram no ar, no seio do ar impalpável; e semelhante ao edifício sem base desta visão, as altas torres, cujos cimos tocam as nuvens, os suntuosos palácios, os solenes templos, até o imenso globo, sim, e tudo quanto nele descansa, dissolver-se-á e, como este cortejo insubstancial acaba de sumir, sem deixar atrás de si o menor sinal. Somos feitos do mesmo material que os sonhos e a nossa curta vida acaba com um sono!”
“Spassky é um dos dez melhores enxadristas de todos os tempos”. Fischer.

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