TCC - O xadrez e a tomada de decisões

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC
 
Resumo


Por Rodrigo Scimini Gibba

Blog: http://www.coachingatleta.wordpress.com

GIBBA, Rodrigo. A aprendizagem do jogo de xadrez como instrumento para auxílio na tomada de decisão.

O jogo de xadrez , integrado como esporte mental pela Associação Internacional de Esportes Mentais(IMSA) desde 2005, é reconhecido por desenvolver as capacidades de cognição como memória, tomada de decisão, raciocínio lógico-matemático e inteligência espacial.

Com base nestas capacidades foi elaborado um questionário onde os participantes determinaram qual a capacidade melhor se relacionou com sua melhora de situações relevantes a seu cotidiano e em quais setores ou condições. Esta pesquisa foi realizada com 20 adultos de 18 à 56 anos, que iniciaram um programa de aprendizagem na escola técnica ETE “Lauro Gomes” no período de Janeiro à Maio de 2011.

Após resultados obtidos, a capacidade de maior importância foi a tomada de decisão e suas características no jogo em relação a diversas situações aplicadas em outros setores de suas vidas, dentre elas a iniciativa, administração do tempo e a atitude interna.

Palavras-chave: Xadrez, tomada de decisão, Esportes Mentais.

5.1. O Xadrez e a tomada de decisões

 “As decisões são escolhas tomadas com base em propósitos, são ações orientadas para determinado objetivo e o alcance deste objetivo determina a eficiência do processo de tomada de decisão.” (SHENK, 2006).

 O xadrez apresenta-se como uma rica ferramenta no processo de tomada de decisões para os diversos fatores de nossa vida. Diferentemente de outros esportes-jogos, onde por exemplo no futebol, o jogador tem a oportunidade de errar várias vezes, como um centroavante que desperdiça vários chutes à gol, e concluindo muitas vezes apenas uma tentativa entre tantas, tem-se o seu profissionalismo valorizado, ou mesmo esportes individuais como o tênis, que possuem um processo de vários sets e muitos pontos sendo disputados entre os mesmos, o xadrez com toda a sua precisão, não permite este “luxo”, onde se quer, apenas um pequeno erro de cálculo ou má visualização da tomada de decisão, pode acarretar em uma derrota imediata, com uma punição sem a oportunidade de se redimir ou voltar o lance. Cabe-se então se aprimorar e aprender com o erro passado somente numa próxima oportunidade de partida.

5.2. Conhecimento prévio

Vários fatores são levados em consideração na tomada de decisão em uma única jogada, como conhecimento prévio da posição em questão, ou seja, naturalmente quanto mais familiarizado o praticante estiver da posição que pode vir a se repetir no tabuleiro, mais ele terá condições de saber o movimento ideal.

Com efeito, uma vez entendendo os seus conceitos e fundamentalmente aprendendo com seus erros pretéritos ou de outros jogadores na mesma posição, correlacionando este fator diretamente com a tomada de decisões em nosso cotidiano. Podemos introduzir a capacidade de se analisar a questão que devemos tomar entendendo os valores que mais são prioritários para nós e fundamentalmente aprendermos com decisões erradas que fizemos no passado em relação à mesma.
Para isto, portanto, é importante que num primeiro momento estejamos conscientes do objetivo que temos, e então traçarmos uma decisão estudando com base no que já conhecemos, e este fator é fundamental na prática do xadrez, devemos pensar analiticamente,  ou seja, antes da ação impulsiva, percebe-se que podemos desenvolver um grau de acertividade muito maior quando realizamos uma investigação anterior de nossas maiores possibilidade de êxito. A prática já conhecida nos permite ter maiores possibilidades de “avaliar” como chegar de maneira mais eficiente em nosso objetivo.

Se a prática é desconhecida temos condições de aprender com a experiência dos outros, seja através do contato direto ou indireto. E este fator, de fundamental importância, nos permite estudar a estatística de lances iniciais em uma partida e deduzirmos ou questionarmos o instrutor o porquê dos mesmos então pode avaliar o conhecimento prévio do porque a maioria dos lances iniciais começam com E4 e/ou com D4.

Na tomada de decisão com base no conhecimento indireto nos permite avaliar qual importância tem o fator das experiências dos outros na mesma posição-situação, e na verdade argumentamos que não se é necessário utilizar determinadas “drogas” para sofrermos de suas consequências e percebermos que tomamos a decisão errada.

Neste aspecto, passamos a ter condições ideais de formularmos nossas próprias decisões, uma vez que estas estarão mais bem analisadas e argumentadas, e dessa forma explorarmos o campo de decisões mais criativas, se a situação permitir e se tivermos meios para realizá-la.

Quanto aos meios, refletimos se já desenvolvemos devidamente a melhoria de nossa capacidade de cálculo e análise da posição em questão, se já trilhamos algumas vezes o caminho mais eficiente para então podermos ter condições de analisarmos se existem rotas alternativas ideais. Partimos deste pressuposto com base na orientação do Mestre John Watson, em seu quarto volume sobre o domínio das aberturas do xadrez, onde o mesmo recomenda o exercício de aberturas mais simples e tradicionais, a fim de que tenhamos conhecimento prévio antes de estruturas e caminhos mais complexos.

5.3. Solucionar problemas

Xadrez é claramente um instrumento de resolução de problemas, um "caminho ideal para o estudo de tomada de decisão e resolução de problemas, porque é um sistema fechado, com regras claramente definidas" (Horgan, 1988).

Quando confrontados com um problema, o primeiro passo é "analisar [o] de uma forma preliminar e impressionista: avaliando o problema" (Horgan, 1988, p. 3), possivelmente à procura de padrões ou semelhança com experiências anteriores. "Juízos de similaridade pode envolver altos níveis de raciocínio abstrato" (Horgan, 1988, p. 3). Como na matemática, o que pode ser definida como o estudo de padrões, reconhecimento de padrões em xadrez é de primordial importância na resolução de problemas. Depois de reconhecer e semelhança de padrões, uma estratégia global podem ser desenvolvidas para resolver o problema. Trata-se de alternativas de produção, um processo criativo.

Um bom jogador de xadrez, como um solucionador de problemas bom, tem "adquirido um vasto número de esquemas inter-relacionados" (Horgan, 1988, p. 3), permitindo uma boa alternativa para rápida e facilmente vêm à mente. Essas alternativas devem ser avaliadas, através de um processo de cálculo conhecido como análise da árvore de decisão, onde solver o jogador de xadrez / problema é calcular a conveniência de eventos futuros com base nas alternativas estão sendo analisadas.

Horgan (1988) constatou que "o cálculo pode ir várias jogadas a oito ou dez anos à frente. Esta fase exige concentração grave e habilidades de memória ... [ou] ... imagética visual "(p.4). Especialistas de xadrez para crianças foram estudadas por Schneider, Gruber, Ouro e Opwis (1993), e foi encontrado capaz de armazenar grandes "pedaços" de informação, ou "pré-armazenados esquema", que eram os adultos não especializados, e foram capazes de recordá-las muito mais rápido que os adultos para a reconstrução de uma posição.

Depois de uma alternativa adequada para resolver o problema é alcançado e implementado, ele pode ser avaliada. Os jogadores de xadrez, como todos os bons solucionadores de problemas, voltam e avaliam o resultado de uma solução para aumentar o seu nível de especialização. "Peritos e especialistas em potencial quer saber, mesmo quando eles forem bem sucedidos, se houvesse uma alternativa melhor à sua disposição" (Horgan 1988, p.6). Segundo Bloom (1956), este processo de avaliação é um dos objetivos mais importantes da aprendizagem e deve, portanto, ser considerado um dos maiores objetivos educacionais de nossas escolas. "A tendência do xadrez para desenvolver habilidades que podem ser usadas para lidar com as complexidades da vida o tornam uma ferramenta valiosa para o aprendizado. Xadrez deve ser uma disciplina optativa no currículo das escolas públicas" (Schmidt, p. 6).

5.4. Atitude Interna

Outro elemento primordial na tomada de decisão é a importância da atitude interna no decorrer da tomada de decisão, onde salientamos a extrema importância de se realizar a ação sob uma atitude de “centralização”. Refiro-me à centralização nas palavras de Eckart Tolle “Um estado interno de equilíbrio e serenidade, mas ao mesmo tempo de extremo potencial e energia”, ou seja, um estado de equilíbrio e foco mental-emocional. Portanto refiro-me a atitude de estar centrado para tomar decisões sem a influência de um estado mental-emocional desequilibrado. Percebemos isto em relação às decisões que realizamos quando estamos com raiva, distraídos ou mesmo descontentes, nota-se que a emoção que estamos “vivenciando” no momento influencia diretamente nossa escolha.

Este fator está totalmente correlacionado aos primeiros lances no xadrez, onde todo e qualquer lance de abertura deve buscar o “centro” do tabuleiro formado pelas casas e4, e5, d4 e d5, de maneira direta, como os lances que ocupam com peças diretamente estas casas, ou indireta, através de movimentos com peças nas casas laterais, objetiva-se o mesmo centro.

Portanto antes de cada lance, necessita-se trabalhar a atitude interna em prol de um estado de serenidade a fim de não permitir a influência negativa e desequilibrada que pode provocar uma alteração de nossos estados mentais-emocionais.

Neste ponto, observamos que qualquer tomada de decisão origina-se como um pensamento em relação ao que se deve fazer para atingir o seu objetivo, ou seja, como agir, portanto segue-se a relação pensamento-ação. Com base neste primeiro pressuposto, observamos logicamente que quanto menos pensamentos divergentes ao do nosso foco de tomada de decisão, melhor e mais eficiente serão a tomada de decisão.

Daí parte-se para uma característica unida à conseqüência da atitude de estar “Centrado”, que é estar concentrado. Temos por estar concentrado, o fato de focarmos mentalmente a decisão ou problema em questão, a ponto de que somente este fator ocupe nossos pensamentos.

No xadrez, adota-se técnicas de focar somente o centro do tabuleiro, sem as peças, com o objetivo de melhorar a capacidade de concentração e reforçar a atitude interna de centralização, com uma similaridade com as milenares técnicas de meditação oriental sobre às mandalas, onde o praticante concentra o seu olhar no centro de grandes desenhos simétricos, procurando gradativamente com que seus pensamentos se restrinjam à este ponto.

5.5. Visualizar as metas

Outro processo natural na evolução e aprimoramento do jogo é a capacidade de visualizar os lances, ou seja, prever lances futuros, sem a capacidade de mover as peças. Isto envolve a verificação das conseqüências de suas ações, partindo de um conhecimento lógico-dedutivo e da análise de visualização mental antes de realizar a ação propriamente dita.

Com base neste fator, pode-se analisar uma série de variantes e verificar qual seria a jogada mais eficiente de acordo com seu conhecimento. Ou na tomada de decisão em nosso dia-a-dia, refletirmos qual seriam as conseqüências de nossos atos mediante uma análise mental prévia, pois toda ação provoca determinada reação, no xadrez em relação à resposta do adversário em seus lances, na vida investigamos fatores relacionados a reações de outras pessoas ou situações das mais diversas.

5.6. Administração do tempo

Também existe um fator fundamental na tomada de decisão que diz respeito ao fator tempo, ou seja, quanto tempo tem para analisar a situação e tomar minha decisão. Hoje no xadrez, ocorrem diversas competições que procuram reduzir o tempo “clássico” de jogo, que seriam em média de 2 horas para os primeiros 40 lances e posteriores acréscimos de tempo para demais lances. Existem hoje circuitos de 21 minutos ou mesmo uma maior divulgação de competições onde há somente 5 minutos para cada competidor realizar todas as suas decisões até uma possível finalização em cheque-mate ou mesmo perda por tempo, onde independente de se ter mais peças no tabuleiro ou uma posição mais vantajosa, o fator tempo comanda o resultado em questão.

Parece existir uma total correlação com as situações de nossa atual sociedade, onde há cada vez mais, um maior fluxo de informação e as decisões muitas vezes necessitam ser tomadas mais rapidamente.

Em relação ao xadrez, quanto mais conhecimento prévio das posições que se originam o jogador tiver, maior será sua capacidade de interpretar a situação atual do tabuleiro e tomar suas decisões de forma mais rápida, reduzindo o tempo dispendido em longos cálculos. E aí entra um fator muito importante que é a capacidade de armazenar informação e recuperá-la rapidamente, ou seja, memorização. A memorização é fundamental em toda tomada de decisão independente do tempo, entretanto quanto mais treinado o jogador estiver nesta capacidade, mais fácil será tomar decisões num curto espaço de tempo, pois a qualidade e número de posições semelhantes ou iguais que o jogador armazenou, permite que ele faça associações mais rápidas em sua tomada de decisão.

5.7. A iniciativa

A iniciativa é um fator de extrema importância quando nos referimos principalmente à competitividade, forte fator também em nossas decisões diárias, no xadrez a única pequena vantagem que o jogador que inicia com o primeiro lance de peças brancas pode ter em relação à igualdade de material-peças que ambos possuem. Pois ela dá a oportunidade de mantermos uma decisão antecipada a do adversário e quando o adversário “toma” a iniciativa somos obrigados a reagir perante sua escolha.

Portanto se a todo o momento o jogador for capaz de manter a iniciativa isto lhe revelará uma maior possibilidade de êxito competitivo. Isto se revela estatisticamente com o fato de que quem inicia com as peças brancas, portanto, têm direito ao primeiro lance, pode ter uma porcentagem de vitória de 65% superior de quem inicia com as peças pretas.

Em nosso cotidiano, notamos que aqueles capazes de implementar suas idéias ou processos antecipadamente à de seus competidores, tem a mesmas oportunidade de êxito. Portanto, partindo do pressuposto que a iniciativa foi idealizada corretamente, obriga-se com que o outro reaja primeiramente ao seu plano, e no caso de ignorá-la corre-se um grande risco de derrota. Chegamos então ao fator de que nossas decisões fazem parte de um todo.

Seja no xadrez ou na vida, estamos tomando decisões que irão influenciar as decisões de outras pessoas ou situações. O ser humano, como um ser social, percebe que por mais simples que sejam suas decisões, elas afetarão o seu ambiente, seja o tabuleiro, o seu trabalho, ou sua própria casa. Ou mesmo decisões que julgamos isoladas, como escolher virar à direita ou a esquerda no trânsito, fará com que outros tenham que frear, acelerar, ou em última instância acarretaremos um maior fluxo naquele local.

5.8. Planejamento - Plano de ação

Uma vez definido claramente os objetivos, passamos a etapa de pensar na elaboração de um plano de ação para atingi-lo. No xadrez podemos definir de forma geral três objetivos, onde abordamos uma divisão do jogo, sendo feita em abertura, meio-jogo e final.

 Quanto ao objetivo na abertura, procura-se desenvolver as peças visando o centro do tabuleiro, pois é a região onde as mesmas desenvolvem maior potencial. Quanto ao meio-jogo objetiva-se uma posição estratégica superior que permite desenvolver o cálculo de táticas. Quanto a finalização temos como objetivo o cheque-mate ou uma superioridade onde o adversário desista da luta.

Traçando um paralelo com nossas decisões na vida, podemos correlacionar como objetivos que temos a curto, médio e longo prazo, onde naturalmente um se conecta ao outro, a fim de buscar o maior êxito possível naquilo que desejamos atingir como objetivo definido. Percebe-se que com a divisão em períodos de nossos objetivos, mantemos uma visão clara e mais motivadora para a sua concretização.

Comparemos isto com cada lance realizado no jogo, onde é impossível atingir o objetivo final de cheque-mate nos primeiros lances, mas estes estão gradativamente sendo desenvolvidos a fim de que possamos atingir a meta final, portanto se não iniciarmos bem e conscientes do que “queremos” atingir, teremos dificuldades redobradas em re-alinhar nossos objetivos.

Surge a necessidade de realizarmos um plano, ou planos para obtenção deste objetivo. Podemos comparar, por exemplo, com o fato de querermos comprar uma casa, então poderíamos dividir os objetivos a curto, médio e longo prazo. Em curto prazo temos a intenção de melhorar nossa renda mensal, ou evitar gastos desnecessários, poderíamos traçar em médio prazo um plano para agregarmos uma segunda fonte de renda ou melhorarmos nossa qualificação profissional, e em longo prazo atingir determinado valor financeiro que possibilitará dar um “entrada” para compra, poderíamos ser mais específicos e traçarmos em períodos numéricos, como em 3 meses (curto prazo), até 2 anos (médio prazo) e em 5 anos (longo prazo).

 No Xadrez, uma vez eleita a abertura que desejamos jogar, analisamos nossa situação em termos materiais e posicionais, e então traçamos planos de ataque ou defesa para melhorarmos ou consolidarmos nossa situação.

6. CONCLUSÃO

Destacou-se a aprendizagem do jogo de xadrez como um instrumento muito útil no auxílio e associação de várias condições que enfrentamos em nosso cotidiano.

Através da pesquisa realizada observa-se o benefício de tomada de decisão como o fator mais valorizado pelos participantes em relação à experiência que tiveram com a aprendizagem do esporte.

Salienta-se que a abordagem foi realizada com uma faixa etária de adultos com idades de 18 a 56 anos. Após o período de aprendizagem os participantes observaram o quanto determinadas características abordadas e estudadas principalmente de maneira conceitual sobre o jogo, estavam estritamente ligadas a decisões que faziam diariamente, sejam em aspectos de relação profissional ou pessoais. Tais decisões englobam o estabelecimento de metas, planejamento, análises de estratégias, administração do tempo, tomada de decisões, com aumento da criatividade e imaginação para compor cenários, exigir qualidade, controlar emoções, respeitar ao próximo ou em sua atitude interna diante de certos momentos nos quais fizeram melhores escolhas.

Enfim, constatou-se a grande virtude que o esporte xadrez quando abordado de forma a também salientar seus conceitos e não estritamente o aspecto técnico ou competitivo, pode ser de grande interesse e utilidade aos que se propõem em seu ensino-aprendizagem.

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