Há muito tempo pensávamos em alguém que pudesse falar aos leitores do Clube de Xadrez On-Line de como se prepara a carreira de um(a) atleta de alto nível no xadrez.

Se esta pessoa fizesse parte da família do(a) jogador(a) melhor ainda, pois o que mais vemos em nosso meio são os pais tentando direcionar os filhos na modalidade.

Chegamos então ao nome de Cristina Gontijo, empresária de Belo Horizonte que vem fazendo um excelente trabalho com seu filho, acompanhando o jovem MF Arthur Gontijo Chiari nas competições e orientando sua carreira.

Cristina apoia o filho no xadrez há oito anos e conforme podemos ver no currículo do MF Arthur Chiari (vide seu portfólio on-line: http://www.arthurchiari.com.br/titulos), os bons resultados saltam à vista.

A consultora esclarece temas importantes como a escolha do técnico, reação adequada frente às derrotas, a questão da mídia, etc.

Enfim, uma entrevista imperdível. Sobretudo, para pais e treinadores.

Com vocês, Cristina Gontijo!

Perfil

Cristina Gontijo

Cristina Gontijo, 43 anos, reside em Belo Horizonte, formada em psicologia, pós-graduada em Marketing, MBA em Gestão de Negócios e TI, atua como consultora de imagem (www.artedearrumar.com.br).

Entrevista


Quando você teve o primeiro contato com o xadrez?

O meu contato de fato foi quando o Arthur começou a jogar, há oito anos.

O MF Arthur Gontijo Chiari, seu filho, teve a carreira de enxadrista muito bem planejada desde pequeno. Quando foi que a família decidiu apoiá-lo seriamente para ser um enxadrista de sucesso e como você vem realizando o trabalho de manager dele?

Adorei o título de manager. Na nossa família ninguém nunca jogou ou falou do xadrez, tudo começou com o Arthur mesmo. Após o primeiro torneio que o Arthur participou, na Casa do Xadrez, disse de maneira enfática que queria ter aulas. A partir daí, começou a tê-las com o Júlio Lapertosa em Belo Horizonte. Vimos que ele levava o xadrez de forma disciplinada e obstinada, assim como tudo que ele quer conseguir na vida, é de sua personalidade. Entendemos que se ele queria e levava muito a sério o jogo, o nosso papel como pais seria apoiar.


Cite as principais competições em que acompanhou o filho, em especial as internacionais.


Abertos em São Paulo, Rio, Caxias, IRT em São Paulo, Buenos Aires; alguns brasileiros em Londrina, Santa Maria do Jetibá, Poços de Caldas; Pan-americanos em Medellín – Colômbia, Cuenca - Equador, Carlos Paz e Entre Ríos – Argentina; mundiais em Belfort - França, Halkidiki - Grécia, Antalya - Turquia.

O título de MF do Arthur veio cedo. Era já esperada tamanha façanha de um enxadrista tão jovem à época. Fale sobre o evento que lhe deu o título e os bastidores dele.

Foi em Medellín, na Colômbia. A cidade passava por uma manifestação em massa contra o crime organizado e estava extremamente vigiada com o exército nas ruas. Os meninos iam jogar em ônibus da organização “enfeitados” com um ou dois soldados segurando metralhadora. Para sair do hotel e ir até uma farmácia chamavam um segurança para nos acompanhar, assim tudo muito “tranquilo”. Nos dias do campeonato tive um problema de cólica renal que foi contornado e é claro, sem o Arthur saber de nada, pois bastava o caos externo. Ele jogou com muita vontade e determinação, deu uma escorregada em uma partida no dia que teve uma dor estomacal, perdeu depois de estar com a partida ganha. Resolveu seguir com toda garra e acabaram ficando três jogadores com a mesma pontuação como “pedra, papel e tesoura”. Foi no mínimo inesquecível, valeu a pena.


Observamos que o MF Arthur joga alguns torneios em categorias acima da dele. Como é feita a escolha desses torneios visando preparação para outros eventos? Há uma regra?!


A regra é sempre em cima do desejo do Arthur, pois entendo que fazer algo contra a vontade dele, não daria certo por muito tempo. Ele sempre foi muito corajoso e ousado. No início, sugeria a ele jogar em abertos ou categorias acima e ele topava, mais tarde ficou por conta dele mesmo. Ele nunca se contentou com pouco, sempre buscou mais e tem uma autocrítica severa.

Pelos resultados alcançados até aqui pelo MF Arthur, e o talento dele para o xadrez, é possível projetarmos conquistas como a de campeão brasileiro absoluto e o título de GM. A preparação da carreira dele inclui estas perspectivas?

Ele diz que sim e se quiser de fato, terá que lutar e estudar muito, essa escolha deverá ficar por conta dele mais uma vez.

Sobre a escolha do treinador, que perfil deve ter o técnico na hora de os pais contratarem um profissional para preparar seus filhos visando o xadrez de alto rendimento?

Na minha opinião, alguém que se dê bem com o filho em primeiro lugar, depois que tenha capacidade técnica e com custos compatíveis. O aprendiz deve acreditar no profissional, pois como poderia ele treinar pra valer sem fazer um vínculo consistente com o professor?

Como psicóloga de formação, qual a forma mais adequada para os pais e professores lidarem com seus filhos ou pupilos com a frustração de uma derrota em campeonato?

Entendo que temos que demonstrar ao filho que o amamos independente do resultado apresentado por ele. Já vi comportamentos estranhos de treinadores, professores e dos próprios pais em competições. Às vezes o pai (ou a mãe) não fala nada com palavras, mas fala com o semblante, coloca um peso enorme em uma partida ou em um adversário, na maioria das vezes sem se dar conta. A derrota é normal para todo jogador, impossível de não ser vivida e pelo que pude perceber nos atletas de destaque, ela é mais dolorosa. Acredito que a forma de lidar com essa frustração é que tem que ser desenvolvida, pois se o atleta transforma esse sentimento em estudo e maturidade está tudo certo. Nem tudo são flores, o Arthur já foi mal em vários torneios e nem por isso desistiu.

Na questão da mídia - passo importante para mostrar os resultados do atleta - como é possível projetar a imagem do jogador fora do meio enxadrístico? O site do MF Arthur (www.arthurchiari.com.br), por sinal muito bem construído e constantemente atualizado, cumpre esta função de ser um portfólio do enxadrista?

Claro, a ideia é esta. É muito complicado ficar levando um portfólio em cada um que tem chance de apoiar, ficar esperando enfim é desgastante para todos. No site, blog ou qualquer meio eletrônico fica fácil e organizado de apresentar um histórico e outras questões ligadas ao jogador. Por isso, eletronicamente você leva a informação para qualquer pessoa, meio e lugar em tempo real.

E patrocínio, o MF Arthur conta com o apoio de alguma empresa ou instituição?

O Arthur é aluno do SESI e apoiado por essa instituição.

Qual seu ramo de atuação? Teve que fazer alguma adaptação no campo profissional para conciliar sua carreira com a atividade enxadrística do filho?

Atuo em consultoria de imagem e confesso que tive que me adaptar, pois o Arthur ainda muito novo jogava em eventos que eram fora do estado ou do país. Queríamos que ele participasse, mas ao mesmo tempo acompanhar e não trabalhar é difícil. Desenvolvi uma plataforma de ensino à distância (EAD) que possibilita consultoria individual e cursos. Além disso, continuo atendendo de forma presencial, mas agora com essa opção que facilita muito. Além do Arthur, ainda acompanho meu filho Henrique (mais novo um ano) em olimpíadas de matemática.

Você acha que o xadrez ajuda nos estudos escolares das crianças e jovens? Se sim, que habilidades ele potencializa?

Acredito que em todas as áreas, não somente em uma matéria ou outra. Sabemos que a pessoa que joga xadrez lida com o raciocínio, cálculo, estratégia, socialização e ainda com outros temas como frustração, disciplina, controle emocional, humildade, coerência. Imagine um adulto que tenha vivido tudo isso na infância, ele fará a diferença em um emprego, negócio próprio, concurso, vestibular, prova e muitas outras coisas que a vida pode trazer.

Que dicas você daria para os pais que desejam programar a carreira enxadrística dos seus filhos?

Muitos de nós queremos nos satisfazer em cima de nossos filhos e temos a fantasia que daremos tudo a eles e ainda que evitaremos todo tipo de sofrimento... Ledo engano. Considerando que jogar xadrez deve ser um desejo primeiramente do jogador, então podemos apoiar observando alguns pontos como: ter algo para fazer além de debruçar nos tabuleiros dos filhos na hora da partida; não misturar xadrez com turismo durante uma competição; não aumentar a tensão do jogador; respeitar as horas de sono do enxadrista e se tiver que optar entre preparar para uma partida e dormir, a segunda opção é melhor. Isso é o que procuro fazer.

Espaço para as considerações finais e/ou agradecimentos.

Agradeço ao Gérson pelo convite, ao Arthur e Henrique pela oportunidade de ser sua mãe e ao xadrez pelos seus ensinamentos.

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