Crônicas

Por Diercio Ferreira*
 

As origens do jogo de Xadrez não é consenso entre os pesquisadores, alguns remetem à China e outros à Índia, onde o jogo ancestral seria a Chaturanga, sendo a Chaturanga o pai (ou a mãe) de muitos jogos de tabuleiro como o Shatranj (pérsia) e posteriormente o Xadrez, o Shogi (Xadrez Japonês) e o Markut (Xadrez Tailandês) .

É interessante notar que o Xadrez e seus ancestrais de alguma forma miniaturizam padrões sociais e relações de poder à época em que foram criados; Ao ser ocidentalizado, o Xadrez simbolizou todas as mazelas, características e representação da sociedade Feudal Européia medieval, ou seja: Rei e Rainha (Dama) representando o poder Soberano e absolutista, Bispos representando o clero ou o poder secular e transcendental da igreja católica, Cavalos (ou cavaleiros) representando a Nobreza e as relações de Suserania e Vassalagem, As Torres simbolizando os Feudos e posteriormente os Burgos, Cidades-Estado muradas onde o poder político estava atomizado e disperso e finalmente os peões que representa os servos, a infantaria formada pelo povo humilde, que são os primeiros a ocuparem os campos de Batalha na defesa das demais classes sociais e no Xadrez, como na sociedade, os peões estão na linha de frente e são os primeiros a serem sacrificados.

Quanto ao fato da Dama ou Rainha ser mais poderosa que o Rei, alguns historiadores acreditam que o fato do Xadrez ter sido introduzido na Europa pela influência árabe na península Ibérica, que figuras femininas importantes e Poderosas como Isabel de Castela tenham influenciado a inclusão da Dama no Xadrez em seu processo de ocidentalização.

A história a seguir é uma lenda e ao ouvi-la repetidas vezes sempre acreditei ser verdadeira, tenta decifrar as origens do Xadrez, foi publicada no capítulo XVI do Livro “O homem que Calculava” de “Malba Tahan”, pseudônimo do grande escritor e matemático Brasileiro, Júlio César de Mello e Souza  (Rio de Janeiro, 6 de maio de 1895 — Recife, 18 de junho de 1974), através de seus romances foi um dos maiores divulgadores da matemática no Brasil. Segundo Malba Tahan, esta história é narrada ao Califa de Bagdá, Al-Motacém Bilah, Emir dos Crentes, por Beremiz Samir, o Homem que Calculava:

“Em data incerta Reinou na Índia um príncipe chamado Iadava, senhor da província da Tiligana, e dado o constante estado de guerra que afligia a região, foi forçado a repelir o ataque de um poderoso exército liderado por um aventureiro de nome Varangul. O Rei Iadava, grande estrategista, apesar da avassaladora vitória, sofreu uma perda irreparável, entre os mortos, estava o príncipe Adjamir, seu único filho. Em profunda angustia e tristeza pela perda, o Rei Iadava encerrou-se em seus aposentos, só atendia Ministros e Brâmanes. Obcecado pela batalha que lhe tirou a vida do filho, este rei sempre era visto rabiscando na areia planos de uma batalha que se reproduzia indefinidamente. Os anciões Brâmanes assim exclamavam: “-Infeliz monarca!  “Procede como um Sudra (escravo) a quem Deus privou-lhe da luz da razão”.

Após longo período em depressão o rei Iadava foi informado da presença de um jovem pobre e discreto, que há muito lhe solicitava audiência, e disposto atendeu a Lahur Sessa. ( Cujo nome significa natural de Lahur e inventor do Xadrez).

O presente de Lahur Sessa para o Rei Iadava consistia de um grande tabuleiro quadrado, repartido em 64 casas de igual tamanho, alternadas nas cores branco e preto e sobre esse tabuleiro estavam dispostos dois conjuntos de peças, diferenciadas uma do outra pela cor branca e preta, e cujas curiosas regras lhes permitiam fazer movimentos específicos.

Em seu aprendizado, durante uma partida, O Rei Iadava notou que o arranjo das peças, parecia representar com precisão a batalha de Dacsina onde perdeu seu amado Príncipe Adjamir. Ao que Lahur Sessa explanou “- Repares, Oh grande Rei! Que para conseguirdes a avassaladora vitória, foi imprescindível sacrificar este poderoso vizir!  Apontando exatamente para a peça que o rei Iadava, com muito esforço tentava defender e conservar.  Sessa demonstrou desta forma que o sacrifício de um príncipe é muitas vezes, imposto ao soberano como uma armadilha do destino, para que por meio deste sacrifício a paz, a prosperidade e a liberdade de um povo reinem e sejam exaltadas, justificando e dando sentido emocional a tão grande perda e consolando o pobre Rei que dirigindo-se ao jovem Brâmane, exclamou:

“- Vou recompensar-te por este presente que muito serviu para aliviar a profunda dor que carregava em meu peito e livrar-me de tão amargurada angústia-  Pede então o que desejares”. Ao que Sessa replicou: “- Rei poderoso! Não desejo, pelo presente que lhe trouxe outra recompensa senão a de lhe ter proporcionado o alívio de sua dor e reduzir sua melancolia com um passatempo tão agradável.”

Respondeu-lhe o Rei: “- Para que possa o homem vencer os múltiplos obstáculos que se lhe deparam na vida, precisa ter o espírito preso às raízes de uma ambição que o impulsione a um ideal qualquer. Exijo, portanto, que escolhas, sem mais demora, uma recompensa digna de tua valiosa oferta.” Lahur Sessa fez então um pedido um tanto estranho e inusitado: O pagamento em grãos de trigo.!

O Rei espantado diante de inusitada proposta questionou: “- Como poderei pagar tão insignificante pedido?”

Ao que Sessa respondeu “- Simples- Poderoso Rei - Dar-me-eis um grão de trigo pela primeira casa do tabuleiro; dois pela segunda, quatro pela terceira, oito pela quarta, e, assim sucessivamente, dobrando as respectivas quantidades até a sexagésima quarta e última casa do tabuleiro. Rogo-vos, Oh Rei, de acordo com a vossa magnânima oferta, que autorizeis o pagamento em grãos de trigo assim como indiquei!”

Todos riram estrondosamente da “ridícula” proposta e diante de tão “despretensioso” pedido. Sessa poderia obter palácios, ouro, jóias, haréns, até mesmo uma província e contentava-se simplesmente com grãos de trigo!  O Rei o chamou de insensato, de ter um enorme desapego pela fortuna, alegou que o pedido era ridículo, que com duas ou três medidas de trigo pagaria folgadamente este pedido miserável que mal daria para distrair a fome de um pária de seu reino. O Rei empenhou sua palavra e determinou que chamassem os calculistas mais habilidosos da índia e ordenou-lhes que calculassem a porção de trigo devida a Sessa.

- Foi calculado então o número de grãos relativos ao pagamento, obtendo-se um resultado cuja grandeza era até então inimaginável para a concepção humana, a quantidade de grãos necessária era equivalente a uma montanha cem vezes mais alta que o Himalaia!  Toda a índia inteira, produzindo em todos os seus campos, não produziria em 2 000 séculos a quantidade de trigo necessária para pagamento ao jovem Sessa!   Para chegarmos ao número obtido devemos elevar o número 2 a potencia 64, e do resultado retirar uma unidade. É um número astronômico, de vinte algarismos: 18.446.744.073.709.551.615.

Diante do constrangimento do Rei em não poder cumprir sua palavra, Lahur Sessa, como bom súdito abriu mão de seu pedido e argumentou: “Os homens mais avisados iludem-se não só diante da aparência enganadora dos números, mas também com a falsa modéstia dos ambiciosos. Infeliz daquele que toma sobre os seus ombros o compromisso de uma vida dividida cuja grandeza não pode avaliar. Mais avisado é o que muito pondera e pouco promete.”

Com essas sábias palavras o rei contratou o jovem Sessa, nomeando-o primeiro-vizir. Lahur Sessa continuou distraindo o rei com engenhosas partidas de xadrez e orientando-o com sábios e prudentes conselhos prestou relevantes serviços ao povo e ao país.

Esta lenda explica de uma forma bastante simples e didática o conceito de progressão geométrica e o potencial matemático embutido num simples tabuleiro de Xadrez; As relações entre o Xadrez e a educação são emblemáticas, o Xadrez está atualmente sendo usado como ferramenta transversal no desenvolvimento de habilidades cognitivas e facilitando o aprendizado de diversas disciplinas como a física, matemática, a lógica, estudo de línguas entre outras O xadrez tem sido oferecido como disciplina alternativa e em diversas cidades existem leis regulamentando o uso do Xadrez nas escolas.

O xadrez tem sido praticado nos clubes há muitos anos e tem ganhado mais espaço com o advento da internet. Um site interessante para jogar Xadrez e participar de torneios online é o Buho21 (http://www.buho21.com). O Buho21 é Rede social e Clube Multijogador online com grande variedade de jogos como Xadrez, Ludo, Dominó, Gomuku, Damas, Quiz, Reversi. No Buho21, o jogo de xadrez, em especial, possui um sistema de ranqueamento, onde, a cada partida, você recebe pontos por vitórias ou os perde a cada derrota. O sistema gera sua classificação parcial e também permite conversar com seus oponentes durante os jogos.

Sobre o autor:

* Diercio Ferreira, 46, Economista, MBA Executivo em Marketing FGV e Mestrando em Gestão Empresarial ISCTE/Lisboa, Foi Professor Universitário dos Deptos de Economia e Administração da Universidade Estadual de Goiás. Possui larga experiência profissional na área financeira. É enxadrista, foi Diretor do antigo Clube de Xadrez do Recife fundado pelo Dr. Luiz Tavares da Silva e Tesoureiro da Federação Pernambucana de Xadrez nos anos 80. É Coordenador e incetivador do Portal de jogo socias Buho21 no Brasil.

Um comentário:

  1. Valeu grande Diércio !!! Fico feliz em revê-lo sempre nobre e sábio ! !! Saudades dos velhos tempos do clube com o Marcos Asfora , Roberto Antunes , Tumajan , Karline , Pedro Araújo , Dr. Luiz Tavares ,Rodolfo Araújo ! Etc. Grande e saudoso abraço ! Parabéns e sucesso sempre ! Seu irmão enxadrista e capivara : Ibernon Luiz da Silva Filho.

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